sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Entrevista sobre ASSEXUALIDADE

Olá leitor!

Hoje estou postando uma entrevista concedida no início deste mês à repórter Carolina Samorano da Revista do Correio Braziliense sobre o tema Assexualidade.

Espero que gostem e aproveitem!


1.       O que podemos considerar assexualidade? Ausência total de libido?
Não.  De imediato, é muito importante esclarecer que a libido é uma energia psíquica que não rege apenas o comportamento sexual.  Está ligada diretamente à pulsão de vida e tudo que a ela se refere, como por exemplo, a satisfação de necessidades relativas à sobrevivência, à manutenção do organismo e de sua saúde e, em especial, dos aspectos criativos (da criatividade) que se prestam à superação de dificuldades e busca pelo conforto e pelo prazer (não apenas sexual). Se considerarmos etimologicamente, assexualidade significa não-sexualizado. Neste caso, referimos à ausência de roteiros de comportamento que desembocam na atividade erótico-sexual propriamente dita.   

2.       Em alguns blogs e fóruns na internet, alguns assexuais dizem que, embora não gostem de sexo, se masturbam com frequência. Um pessoa que sente alguma forma de prazer e desejo sexual pode ainda assim ser considerada um assexual? Não poderia ser algum bloqueio, medo, trauma, timidez ou qualquer outra coisa do tipo?
Tomando como base a explicação dada acima, algumas pessoas consideram que sexualidade é algo que só existe quando há interação erótico-sexual com outra pessoa.  Dentro dessa forma de entendimento, abrem-se possibilidades inúmeras para que muita gente se defina como assexual, já que o repertório de atividades incluídas no escopo da sexualidade sem que haja interação com o outro é muito grande. Isso, porém, é um engano. A sexualidade está presente desde a formação da identidade de gênero, até as mais diferentes manifestações do erotismo, com ou sem parceria. Portanto, é um diagnóstico muito complicado de ser atribuído, pois não se refere apenas à ausência de coitos.
De fato, alguém que pratica a masturbação, que tem desejo e prazer sexual não pode ser considerada assexual.  O fato dela não se relacionar sexualmente com outras pessoas tem efetivamente outro motivo, que pode estar enquadrado em qualquer dos aspectos que você citou.  O mais comum, na atualidade, refere-se a um tipo de fobia social desencadeada pela onda crescente de violência.  Outro motivo que é muito forte está ligado ao medo do contágio de doenças sexualmente transmissíveis, especialmente a AIDS.

3.        Muitos jovens com 13, 14 anos vão para os fóruns na internet, leem relatos de assexuais e logo se identificam e passam a se chamar de assexuais. O senhor acha que pode ser precipitado para um adolescente que ainda está descobrindo o sexo, passando pela adolescência (que às vezes pode ser cruel), se assumir como assexual sem antes investigar com especialistas e sem dar chance para que o tempo prove o contrário?
De fato, quando se fala de adolescência, toda afirmação categórica pode ser considerada precipitada, pois muito ainda acontecerá em termos de experiências e descobertas. Acredito que a grande maioria dos jovens que se diz assexual nesse estágio da vida, não conseguirá chegar à idade adulta mantendo o “rótulo”.  E arrisco ainda dizer que muitos desses jovens nem precisarão passar por especialistas para tratar disso. Porém, aqueles nos quais a sensação de ser assexual permanecer, devem sim procurar por um especialista para investigação mais detalhada.

4.        Algumas pessoas dizem que a medida para saber se o tratamento com um especialista é válido ou não, é o incômodo que a pessoa sente ou não sendo assexual. O que o senhor acha sobre isso?
Penso que quem procura por um médico ou psicólogo, o faz por sentir-se doente, desconfortável, disfuncional ou em dúvida sobre algum aspecto de seu corpo ou de sua vida. Quem está confortável, bem e feliz não tem motivos para buscar ajuda profissional. O grande enigma que se estabelece quanto à multiplicidade de roteiros e repertórios da sexualidade é saber quais significam ou não uma disfunção, um problema, um desconforto para si e para aqueles com quem se convive. Isso costuma gerar muita confusão antes de se procurar pelo especialista.

5.       Que possíveis causas podem levar à falta de interesse sexual? Como, depressão, por exemplo, traumas, timidez? Observando as comunidades de pessoas no Orkut que participam de comunidade sobre assexuais, vi que muitas delas também participam de comunidade sobre depressão, transtorno bipolar, etc. Há assexualidade tratável?
Há uma distinção importante a se fazer aqui: Falta de interesse (desejo) sexual é uma coisa e assexualidade é outra. Muitas vezes o Desejo Sexual Hipoativo (falta de desejo) acaba sendo um forte motivo para que não aconteça o comportamento erótico-sexual. Esse quadro se apresenta associado a muitos tipos de problemas, tanto orgânicos quanto psicológicos e, às vezes, pode ser um efeito colateral relacionado ao uso de determinados medicamentos.  

6.       Assexualidade pode surgir já na maturidade? Por exemplo, você tem um casamento feliz e normal, até que um dia, perde o interesse, ou é algo vivenciado desde a infância?De fato, qualquer pessoa pode abandonar o repertório erótico-sexual em qualquer momento da vida.  Porém, é importante que, no exemplo dado, haja uma investigação sobre o que mudou para que a pessoa, em determinado momento da sua vida conjugal, simplesmente tenha perdido o interesse.  Este seria, aparentemente, um caso de Desejo Sexual Hipoativo, marcado por alguma causa orgânica ou psicológica. 

7.       Qual é a diferença entre assexualidade e Desejo Sexual Hipoativo? Há uma confusão entre os dois?
Sim, muita!  Entendemos que o comportamento sexual se divide basicamente em três fases: desejo, excitação e orgasmo.  As disfunções sexuais, portanto, podem se manifestar especificamente numa dessas fases. Logo, o Desejo Sexual Hipoativo é uma disfunção referente à fase do desejo e que se caracteriza pela baixa ou ausência total de desejo erótico-sexual, involuntariamente, seja por um parceiro específico ou de forma generalizada, impedindo ou comprometendo as fases subsequentes. Sua origem pode ser (1) orgânica, como, por exemplo, em alguns casos de déficit hormonal, (2) psicológica, onde podemos usar como exemplo casos de estresse pós-traumático ou problemas de relacionamento, ou ainda (3) iatrogênica, por consequência do uso de determinados medicamentos.
Quanto à assexualidade, esta pode ser melhor entendida como uma ausência ou eliminação, voluntária ou não, dos roteiros e repertórios de comportamento erótico-sexual.
8.        Há mais mulheres que se dizem assexuais do que homens. Por que isso? Pode estar relacionado à criação que as mulheres recebem, por exemplo? Porque homens costumam ser educados para máquinas do sexo.
Na verdade, existem mais mulheres com Desejo Sexual Hipoativo e que não sabem que sofrem dessa disfunção. Porém, na questão da assexualidade, é óbvio que as questões culturais, educacionais, religiosas, familiares e da moda interferem significativamente no valor que é atribuído ao comportamento.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

"Uma das mais belas compensações da vida é que nunhum ser humano pode ajudar o outro sem que esteja ajudando a si mesmo"
Ralph Waldo Emerson