domingo, 18 de março de 2012

Experimentar a vida: um ato de amor.

Olá leitor!
Conforme comentei no post anterior, estou em fase de aquecimento para o 3º Encontro de Psicologia Transpessoal.  É meu desejo compartilhar novas reflexões.  Aliás, leitor, tenho feito um novo tipo de releitura, que tomo a liberdade de chamar de “leitura vivencial” e que tem sido assim: às vezes me demoro muito num determinado capítulo ou trecho, lendo e relendo, buscando não só uma compreensão teórica, mas, principalmente, uma percepção factual.  Assim, fico analisando por dias e dias, dentro da minha experiência pessoal, profissional e mesmo familiar, o desenrolar dos acontecimentos a partir do que tenho lido.  Tento encaixar o que estou estudando com os acontecimentos cotidianos.  Por isso, uma (re)leitura que seria breve, rápida, tem se estendido para um tempo diferente, longo, uma dimensão vivencial.  Tenho notado que alguns tópicos levam mais tempo do que outros até que eu me considere apto a seguir adiante.  Apto é bem diferente de pronto e você poderá compreender a que me refiro durante o compartilhar das reflexões.  Mais uma vez, espero que goste e aproveite.
No livro AMOR, o prof. Léo Buscaglia citando respectivamente Herbert Otto e Erich Fromm, afirma:

“As mudanças e o crescimento ocorrem quando uma pessoa se expõe e torna-se envolvida com a ideia de experimentar a própria vida”.  
“Viver é um processo contínuo de renascimento. A tragédia da vida da maioria de nós é que morremos antes de termos nascido completamente”.
Desde que nascemos somos “educados” para seguir códigos de padrões sócio culturais que massificam e nos impõem a normose.  Nesse processo, abandonamos a prática de experimentar a própria vida e seguimos um fluxo onde tudo nos é dado pronto, definido como certo, esperado, ajustado ou saudável. A experimentação ficou restrita aos “cientistas” em seus laboratórios, de onde virão as especificações técnicas de como “viver” a partir de uma nova descoberta.
Aprendemos o que e como falar, vestir, comer, ver, ler, sentir e assim nossas escolhas, desejos, preferências cedem lugar ao automatismo.  Que tristeza!  Perceba como, de fato isso anula o compromisso consigo mesmo, de experimentar a própria vida. 
Buscaglia , desenvolvendo  o tema, considera esse ato de experimentar engraçado, alegre e feliz, exigindo do “experimentador” (ao qual prefiro daqui por diante chamar de PESSOA VIVA) que acredite em suas capacidades e recursos; que acredite em si, para que possa viver o desconhecido que às vezes amedronta. Ele não disse, porém, que para conseguir acreditar nesse poder de enfrentar o desconhecido e tirar proveito disso, é necessário se envolver com a vida e permitir-se experimentar.  Note, leitor, que isso é um círculo onde uma coisa reforça a outra.
Conforme comentei no começo do texto, me deixei envolver pela leitura vivencial.  Libertei meu pensamento e minhas sensações no meu dia a dia. Vaguei, observei, senti...  Cheguei ao mundo virtual, este mesmo em que estamos nos comunicando agora.  Pensei nos sentimentos evocados por algumas apresentações feitas em Power Point  e que circulam na rede mundial de computadores.  Algumas fazem muito sucesso entre leitores e propagadores. E qual será o motivo disso? Acredito que esse sucesso tem como base o fato de que tudo aquilo que é recebido pronto confere uma isenção da necessidade de experimentar. A experiência já aconteceu com outro alguém e o resultado está ofertado na dita apresentação. Torna-se algo conhecido, uma receita, uma proposta para realizar daquela forma.  Não há mais a necessidade de enfrentar o desconhecido. Ele já foi deflagrado. Não há mais medo. Nem desafio (!!!).  E grande parte das pessoas automatas se satisfaz apenas em ver a experiência alheia e imaginar como seria isso em suas vidas automáticas. Algumas até se encorajam em repetir a experiência, seguir as orientações, almejando o resultado demonstrado. Auto ajuda? Será? É certo que são belas imagens e bonitas palavras.  
Mas, cabe dizer que no meio dessas mensagens existem as que partem de/alcançam PESSOAS VIVAS. Estas se sensibilizam com a vida e com a experiência do outro. Compreendem que faz parte de um grande processo ao qual respeitam, pois sabem que cada ser será desafiado, testado, confrontado e terá o aprendizado e proveito naquilo que seu eu superior necessita.
Voltei a vagar nos meus pensamentos: que bom que existem pessoas compartilhando experiências.  São seres de amor.
Tornando ao livro, observo que experimentar a própria vida implica num crescimento significativo do ser, que não pode ser ofertado sob a forma de um produto, mas estimulado e encorajado.  Percebo cada dia mais forte a responsabilidade e importância do meu trabalho, retirando pessoas do automatismo normótico, bem como a imensa força que preciso empregar em minha vida pessoal para não me deixar levar para os “enlatados”, para as cristalizações.  UFA!
Neste momento retomo o tema sobre a diferença de estar apto e estar pronto.  Erich Fromm afirma que o processo de renascer é constante.  Penso, porém, que nem todos se dispõem a renascer. Muita gente prefere a zona de conforto proposta pela normose. Renascer significa apreender novos conceitos, valores, novos objetivos, ideias e ideais.  Para que isso se dê, é necessário experimentar a própria vida e abrir espaço para o novo, para o desconhecido. O próprio conceito de renascimento implica em recomeçar, em fazer diferente e enfrentar tudo o que advém dessa rica experiência, reforçando ainda o pensamento de que mesmo aquilo que aparentemente seja ruim nesse processo, serve para aprimorar e lapidar a alma.  Portanto, como você pode ver, leitor, acrescento ao pensamento do prof. Buscaglia a compreensão de que a dor e o sofrimento também fazem parte da experiência vida. E que, dependendo da leitura que se faça desses elementos, o resultado final será, indubitavelmente, o crescimento.
Na minha prática clínica tenho visto muitas pessoas que despertam da experiência da dor e do sofrimento muito mais fortes, preparadas e aptas a renascer sempre, experimentando a vida de forma mais destemida e determinada.
Quando Fromm diz que morremos antes de nascer completamente, aponta o fato de que nunca estaremos prontos.  Sempre haverá um algo a mais, um ponto novo, uma nova experiência.  Junto aqui um conceito do texto passado: a evolução é continua. Mas não vejo isso como uma tragédia. Podemos não ficar prontos, mas teremos cada vez mais aptidão para a vida em sua plenitude e exercendo o maior dom que ela nos confere: o AMOR.
Reexaminar minha vida segundo essa ótica tornou as últimas semanas bastante turbulentas. Nascer, renascer, buscar, experimentar, constatar, tentar mudar, mudar efetivamente são todos processos que nos afetam de diferentes maneiras.  Enxergar a mudança ou apenas a sua mera possibilidade colocam os nervos à flor da pele... Que bom! Estou vivo e sentindo essa intensa, rica e maravilhosa experiência de viver.  De AMAR.  Sim, eu sou uma PESSOA VIVA, um experimentador da própria vida e desejo, do fundo de minha alma, contribuir para que outros o sejam também.


Encerro as palavras de hoje ciente de que isso tudo é apenas mais um momento de aptidão amorosa, posto que sempre haverá algo a acrescentar e que, portanto, nem mesmo este texto deve ter a pretensão de ficar pronto.
Mas deixo como fechamento, leitor,  a poética de Gonzaguinha: Viver, Amar, Valeu!
Quando a atitude de viver,
   É uma extensão do coração
      É muito mais que um prazer,
          É toda carga da emoção
             Que era um encontro com o sonho,
                Que só pintava no horizonte,
                   E de repente diz presente,
                      Sorri, e beija a nossa fronte,
                         E abraça e arrebata a gente,
                            É bom dizer, viver valeu!
                                Ah! Já não é nem mais alegria,
                                   Já não é nem felicidade
                                     É tudo aquilo num sol riso,
                                        É tudo aquilo que é preciso
                                           É tudo aquilo paraíso,
                                              Não há palavra que explique
                                                 É só dizer: viver valeu!
                                                    Ah, eu me ofereço este momento,
                                                       Que não tem paga e nem tem preço
                                                          Essa magia eu reconheço,
                                                             Aqui está a minha sorte,
                                                                Me descobri tão fraco e forte,
                                                                   Me descobri tão sal e doce
                                                                      E o que era amargo acabou-se,
                                                                         É bom dizer viver valeu,
                                                                            É bem dizer: AMAR valeu, AMAR valeu!

Um comentário:

  1. Ralmer, quão tocante são este teu texto juntamente com as citações do autor do livro que estás lendo. Uma fonte viva para aqueles que têm sede das descobertas e das experiências. Certamente irá me instigar em muitas reflexões. Grande abraço e continue a nos presentear com reflexões como esta.
    Cleyton

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