domingo, 9 de outubro de 2011

"A vida é um fluxo. Nada permanece o mesmo; às vezes há grandes espaços e às vezes não há para onde se mover. Mas as duas coisas são boas, ambas são dádivas da existência."
Osho


terça-feira, 20 de setembro de 2011

Na escola da vida, "ninguém é seu inimigo, ninguém é seu amigo; todos são seus instrutores".
Adaptado de Luz no Caminho, de Mabel Collins.

Pois é, leitor.  Retornei de Buenos Aires, de minha participação no XI Congresso da Sociedade Latino Americana de Medicina Sexual - SLAMS, cheio de reflexões sobre o relacionar-se com os outros.  De fato, aprendi mais um pouquinho sobre o que diz a frase acima e que resume tudo o que senti e estou sentindo.  Ela basta, em sua complexa simplicidade. 

Por vezes somos impelidos a pensar que esta ou aquela pessoa que cruzou, cruza ou cruzará nosso caminho, teve, tem ou terá um papel simpático ou antipático.  Visão devastadoramente limitada.  Quase cartesiana nesse binomio do bom ou mau.  E o pior, leitor, é que também estaremos sendo vistos assim, já que a lente que usamos para ver o outro é a mesma que ele usará pra nos ver.

Quando ampliamos a visão do outro para uma dimensão muito maior, lembrando que somos todos oriundos do mesmo Criador e que nesta grande escola que é a vida, rumamos juntos na incrível missão de evoluir, para um dia sermos novamente o UNO, é nesse exato momento (da visão ampliada) que identificamos no outro muito mais do que um simples ente bom ou mau segundo nosso ego ainda medíocre e imaturo. 

Esse outro, seja interpretado como amigo ou inimigo, que na verdade prefiro chamar de afeto ou desafeto, torna-se o mestre que vem defrontar nossos íntimos defeitos.  O afeto o faz de forma carinhosa, acolhedora e muitas vezes, pela sua forma suave em nos oferecer o ensinamento, não recebe seu devido valor.  O desafeto, ao contrário, "bota o dedo na ferida", nos chamando a atenção para aquilo que não gostamos em nós.  Essa é, pois, a grande lição: reconhecer no outro, independente de sua forma de agir ou atuar em nossas vidas, o mestre, o instrutor para aquilo que precisamos aprender e apreender.  

E assim voltei de Buenos Aires: revendo e revisitando cenas, situações, histórias... Máscaras, mascarados e desmascarados... Rostos, lágrimas, sorrisos... Voltei reativando afetos, desmitificando desafetos e, especialmente recebendo, acolhendo e agradecendo à tantas lições que todos meus instrutores da vida tem me oferecido.  À todos vocês, minha reverência sincera, pois hoje, mais do que nunca, eu os vejo e os reconheço como importantes personagens de minha história.   

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Entrevista sobre ASSEXUALIDADE

Olá leitor!

Hoje estou postando uma entrevista concedida no início deste mês à repórter Carolina Samorano da Revista do Correio Braziliense sobre o tema Assexualidade.

Espero que gostem e aproveitem!


1.       O que podemos considerar assexualidade? Ausência total de libido?
Não.  De imediato, é muito importante esclarecer que a libido é uma energia psíquica que não rege apenas o comportamento sexual.  Está ligada diretamente à pulsão de vida e tudo que a ela se refere, como por exemplo, a satisfação de necessidades relativas à sobrevivência, à manutenção do organismo e de sua saúde e, em especial, dos aspectos criativos (da criatividade) que se prestam à superação de dificuldades e busca pelo conforto e pelo prazer (não apenas sexual). Se considerarmos etimologicamente, assexualidade significa não-sexualizado. Neste caso, referimos à ausência de roteiros de comportamento que desembocam na atividade erótico-sexual propriamente dita.   

2.       Em alguns blogs e fóruns na internet, alguns assexuais dizem que, embora não gostem de sexo, se masturbam com frequência. Um pessoa que sente alguma forma de prazer e desejo sexual pode ainda assim ser considerada um assexual? Não poderia ser algum bloqueio, medo, trauma, timidez ou qualquer outra coisa do tipo?
Tomando como base a explicação dada acima, algumas pessoas consideram que sexualidade é algo que só existe quando há interação erótico-sexual com outra pessoa.  Dentro dessa forma de entendimento, abrem-se possibilidades inúmeras para que muita gente se defina como assexual, já que o repertório de atividades incluídas no escopo da sexualidade sem que haja interação com o outro é muito grande. Isso, porém, é um engano. A sexualidade está presente desde a formação da identidade de gênero, até as mais diferentes manifestações do erotismo, com ou sem parceria. Portanto, é um diagnóstico muito complicado de ser atribuído, pois não se refere apenas à ausência de coitos.
De fato, alguém que pratica a masturbação, que tem desejo e prazer sexual não pode ser considerada assexual.  O fato dela não se relacionar sexualmente com outras pessoas tem efetivamente outro motivo, que pode estar enquadrado em qualquer dos aspectos que você citou.  O mais comum, na atualidade, refere-se a um tipo de fobia social desencadeada pela onda crescente de violência.  Outro motivo que é muito forte está ligado ao medo do contágio de doenças sexualmente transmissíveis, especialmente a AIDS.

3.        Muitos jovens com 13, 14 anos vão para os fóruns na internet, leem relatos de assexuais e logo se identificam e passam a se chamar de assexuais. O senhor acha que pode ser precipitado para um adolescente que ainda está descobrindo o sexo, passando pela adolescência (que às vezes pode ser cruel), se assumir como assexual sem antes investigar com especialistas e sem dar chance para que o tempo prove o contrário?
De fato, quando se fala de adolescência, toda afirmação categórica pode ser considerada precipitada, pois muito ainda acontecerá em termos de experiências e descobertas. Acredito que a grande maioria dos jovens que se diz assexual nesse estágio da vida, não conseguirá chegar à idade adulta mantendo o “rótulo”.  E arrisco ainda dizer que muitos desses jovens nem precisarão passar por especialistas para tratar disso. Porém, aqueles nos quais a sensação de ser assexual permanecer, devem sim procurar por um especialista para investigação mais detalhada.

4.        Algumas pessoas dizem que a medida para saber se o tratamento com um especialista é válido ou não, é o incômodo que a pessoa sente ou não sendo assexual. O que o senhor acha sobre isso?
Penso que quem procura por um médico ou psicólogo, o faz por sentir-se doente, desconfortável, disfuncional ou em dúvida sobre algum aspecto de seu corpo ou de sua vida. Quem está confortável, bem e feliz não tem motivos para buscar ajuda profissional. O grande enigma que se estabelece quanto à multiplicidade de roteiros e repertórios da sexualidade é saber quais significam ou não uma disfunção, um problema, um desconforto para si e para aqueles com quem se convive. Isso costuma gerar muita confusão antes de se procurar pelo especialista.

5.       Que possíveis causas podem levar à falta de interesse sexual? Como, depressão, por exemplo, traumas, timidez? Observando as comunidades de pessoas no Orkut que participam de comunidade sobre assexuais, vi que muitas delas também participam de comunidade sobre depressão, transtorno bipolar, etc. Há assexualidade tratável?
Há uma distinção importante a se fazer aqui: Falta de interesse (desejo) sexual é uma coisa e assexualidade é outra. Muitas vezes o Desejo Sexual Hipoativo (falta de desejo) acaba sendo um forte motivo para que não aconteça o comportamento erótico-sexual. Esse quadro se apresenta associado a muitos tipos de problemas, tanto orgânicos quanto psicológicos e, às vezes, pode ser um efeito colateral relacionado ao uso de determinados medicamentos.  

6.       Assexualidade pode surgir já na maturidade? Por exemplo, você tem um casamento feliz e normal, até que um dia, perde o interesse, ou é algo vivenciado desde a infância?De fato, qualquer pessoa pode abandonar o repertório erótico-sexual em qualquer momento da vida.  Porém, é importante que, no exemplo dado, haja uma investigação sobre o que mudou para que a pessoa, em determinado momento da sua vida conjugal, simplesmente tenha perdido o interesse.  Este seria, aparentemente, um caso de Desejo Sexual Hipoativo, marcado por alguma causa orgânica ou psicológica. 

7.       Qual é a diferença entre assexualidade e Desejo Sexual Hipoativo? Há uma confusão entre os dois?
Sim, muita!  Entendemos que o comportamento sexual se divide basicamente em três fases: desejo, excitação e orgasmo.  As disfunções sexuais, portanto, podem se manifestar especificamente numa dessas fases. Logo, o Desejo Sexual Hipoativo é uma disfunção referente à fase do desejo e que se caracteriza pela baixa ou ausência total de desejo erótico-sexual, involuntariamente, seja por um parceiro específico ou de forma generalizada, impedindo ou comprometendo as fases subsequentes. Sua origem pode ser (1) orgânica, como, por exemplo, em alguns casos de déficit hormonal, (2) psicológica, onde podemos usar como exemplo casos de estresse pós-traumático ou problemas de relacionamento, ou ainda (3) iatrogênica, por consequência do uso de determinados medicamentos.
Quanto à assexualidade, esta pode ser melhor entendida como uma ausência ou eliminação, voluntária ou não, dos roteiros e repertórios de comportamento erótico-sexual.
8.        Há mais mulheres que se dizem assexuais do que homens. Por que isso? Pode estar relacionado à criação que as mulheres recebem, por exemplo? Porque homens costumam ser educados para máquinas do sexo.
Na verdade, existem mais mulheres com Desejo Sexual Hipoativo e que não sabem que sofrem dessa disfunção. Porém, na questão da assexualidade, é óbvio que as questões culturais, educacionais, religiosas, familiares e da moda interferem significativamente no valor que é atribuído ao comportamento.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

"Uma das mais belas compensações da vida é que nunhum ser humano pode ajudar o outro sem que esteja ajudando a si mesmo"
Ralph Waldo Emerson


sexta-feira, 15 de julho de 2011

Na Constelação Familiar Sistêmica, o representante é espontâneo?

Ainda falando sobre a espontaneidade do ator, depois do último post, fui inquirido sobre a espontaneidade no trabalho dos “representantes” dentro de uma Constelação Familiar Sistêmica.
Embora ainda esteja nos primeiros passos do caminho para vir a ser um constelador, pensei um pouco sobre o assunto.
Inicialmente cabe explicar que representante é uma pessoa presente no trabalho de constelação, que é grupal, e que fica disponível para entrar numa constelação, representando algum ente da família, do grupo ou da situação que está sendo constelada. Se pensarmos no Psicodrama, ele seria comparável ao ator auxiliar (antigamente chamado de ego-auxiliar)  escolhido na platéia para desempenhar um papel na dramatização.
De fato, leitor, algumas pessoas até acham o trabalho de Constelação Familiar algo parecido com o Psicodrama. Eu próprio, em meu primeiro contato pensei isso. Mas não é.
Atendo-me à pergunta que me foi feita, no caso do representante em uma Constelação, não há como se falar em espontaneidade segundo os padrões de análise que utilizei no texto, a saber: co-criação do texto e da cena. 
Aliás, se pensarmos profundamente nessa questão, a história de uma família, até o momento do trabalho de constelação, já foi "escrita" (vivida). Portanto, o “texto” e as “cenas”, se existissem nessa forma de trabalho, seriam pré-existentes em cada constelação e então, não poderíamos falar de espontaneidade.  Quando o representante é colocado em seu lugar no início do trabalho de constelação, à energia que o movimenta (corporalmente), Bert Hellinger chamou de Campo. O Campo de uma Constelação, de uma família, respeita aos sentimentos e histórias a ela referentes, que, diga-se de passagem, raramente são contadas ao “público” de onde saem os representantes.  O movimento é energético e sensorial! Não é mágico e nem mesmo espontâneo, uma vez que não há vontade expressa do representante, nem do constelador e nem do constelado!  Daí o nome constelação: pense, leitor, nos planetas que se equilibram mutuamente através de suas forças gravitacionais (energia), de atração e repulsão, circunscrevendo suas órbitas e formando o desenho característico que cada grupamento de corpos celestes tem. E é isso o que se configura no início do trabalho de constelação, sem texto, sem cena, sem cenário.
A reconfiguração da constelação também não depende da espontaneidade ou daquilo que poderíamos chamar de “criatividade” do representante ou do constelador.  Do que tive a oportunidade de apreender até esta fase de minha formação, o aspecto sensorial é fundamental nesse processo. Mas sobre isso, escreverei quando estiver mais aprofundado no conhecimento do trabalho.  Aguardem!!!

terça-feira, 12 de julho de 2011

A ESPONTANEIDADE COMO FERRAMENTA DO ATOR CONVENCIONAL E DO ATOR DE IMPROVISO

Já que o assunto da hora é Teatro Espontâneo, aproveito a deixa, leitor, para apresentar um texto que escrevi já há algum tempo, versando sobre o assunto.  Divirta-se!

A espontaneidade como ferramenta do ator convencional e do ator de improviso


Não


Não sei se é um truque banal

Se um invisível cordão

Sustenta a vida real

Cordas de uma orquestra

Sombras de um artista

Palcos de um planeta

E as dançarinas no grande final





Certa vez, participei de um workshop, dirigido pela psicodramatista Maria Elena Garavelli, de Córdoba, Argentina e promovido pela Cia do Teatro Espontâneo, cujo título era “Trabalhando Grupos com Arte”. Dentre vários aspectos que foram abordados durante as atividades, um que me chamou a atenção fez referência às diferenças entre o ator convencional e o ator espontâneo ou, melhor designando, ator de improviso, quanto ao uso da espontaneidade em cena.

Quero mencionar que as diferenças conceituais que aqui apresento são na realidade diferenças técnicas e, proponho uma compreensão didática das mesmas especificamente no que alude à prática.

Começarei pelo básico dos básicos, esclarecendo a diferença acima mencionada: Ator, ator convencional e ator de improviso. O primeiro, por simples definição, é um artista que em sua prática, empresta seu corpo e sua voz para um personagem ganhar possibilidade de expressão pelo movimento e pela fala. No dicionário Aurélio, encontra-se a definição “agente do ato”.

O segundo, ao qual temos chamado de convencional, carrega em si as mesmas definições do anterior, apenas ganhando como acréscimo e especificação o fato de que desempenha sua arte num espetáculo estruturado, ao qual chamarei também de convencional. Este espetáculo é aquele em que o texto já foi escrito pelo autor, os personagens já tem seus traços particulares de personalidade, e, principalmente, o diretor define para os atores toda a marcação de cena, incluindo o movimento, a inflexão da fala, a intencionalidade, além de outros aspectos técnicos como trilha sonora, figurinos, iluminação, cenografia, entre outras coisas, sempre dentro da sua concepção estética. Isso quer dizer que o texto, a ação, o como e o quando representar em cada cena desse espetáculo, já foram todos predefinidos e serão devidamente ensaiados, decorados e integrados para a estréia e as sucessivas apresentações, que deverão ser iguais.

Por fim, o ator de improviso pode ser considerado como o que atua em espetáculos cujo texto, cenário, ação dramática, trilha sonora, iluminação, figurinos e adereços e muitas vezes até os personagens secundários da trama, são criados exatamente no momento da ação. Pode-se entender, pela similaridade da prática teatral, que o ator de teatro espontâneo é um ator de improviso.

Quero ressaltar que não tenho a intenção de propor novas definições ou novos rótulos para um mesmo elemento. Também não quero problematizar a figura do ator. O objetivo das classificações acima descritas é, em verdade, esclarecer aspectos de uma “especialização” que se vê em outros ramos profissionais e que facilitam sobremaneira a sua compreensão. Com efeito, um médico pode ser cardiologista, urologista, psiquiatra ou outra especialidade qualquer, mas não deixa de ser médico, o que na verdade representa a condição primeira para que a outra possa acontecer. Assim, também o ator pode ser um “especialista” em mímica, pantomima, improviso, teatro convencional, entre outras formas.  

Nos últimos anos, falando-se um pouco de estética e técnica teatral, o publico foi condicionado a aceitar determinadas práticas cênicas como uma forma de entretenimento, diversão e até mesmo como sinônimo de boa atuação num espetáculo. O contato e a comunicação direta com o público foi amplamente estimulado, sendo difícil, nos dias de hoje, assistir uma apresentação onde essa integração ator/personagem e platéia não aconteça. Aparentemente, esse contato oriundo do Teatro Interativo, traz a platéia parcialmente para a cena e para o espetáculo, observando-se que para alguns espectadores isso é extremamente agradável, assim como para outros não.



Também nessa linha interativa, um erro ocorrido num texto ou numa cena pode ser largamente aplaudido, desde que haja uma piada ou uma “gracinha” feita pelo ator que errou. Isso, hoje em dia, é confundido por alguns com uma atuação espontânea. É importante destacar que essa tática difere muito do improviso. Moreno fala do impromptu, (não pronto) ou imprevisto em cena, considerando que esse fato inesperado leva o ator a um momento criativo que é o improviso. Esse improviso, na realidade, não escapa do texto, mas sim, conduz o ator de volta à ele e à cena para que o espetáculo continue.

Mais ainda, os “cacos” inseridos nos textos vem, também, reforçar o engano de que essa representação está sendo espontânea. O caco é uma fala que originalmente não existia no texto, mas que, durante o período de ensaios, se encaixa e passa a fazer parte dele. Para Brecht, o caco seria uma reafirmação para a platéia de que aquilo que está sendo assistido não faz parte da realidade. É apenas ficção. Esta prática está ligada à uma concepção estática específica e difere muito das falas de improviso e das falas soltas e perdidas. Estas últimas ganharam o mesmo valor das “gracinhas” cênicas, pois garantem que esse será um espetáculo único, personalizado e que jamais haverá outro igual. E com isso, acreditam alguns que o ator é um ótimo profissional e que é muito espontâneo. Ledo engano!!! O espetáculo convencional exige que o ator seja, antes de mais nada, um instrumento afinado nas mãos do diretor, que executará sempre a mesma sinfonia, ou seja, um espetáculo tem, efetivamente, que ser igual ao outro. E se seus atores o conseguirem, aí sim, devem ser ovacionados e considerados bons, dentro dessa proposta teatral.   No teatro de improviso ou no teatro espontâneo, o ator deve, também, respeitar a direção da cena, porém, muito ao contrário da outra expressão teatral, praticamente todo o texto e a maioria de seus movimentos serão resultado de seu ato criativo, conferindo, em especial, a originalidade ao espetáculo.

Chegamos então ao ponto a que me proponho e que foi tema de uma discussão no workshop: A espontaneidade do ator convencional e do ator de improviso.
Efetivamente, a espontaneidade resulta de uma interação que acontece durante o ato cênico e onde, de certa forma, todos os participantes dessa interação, ou seja, equipe teatral e/ou platéia, funcionam como co-criadores.

Nessa linha de pensamento, acredito que um ator convencional, juntamente da equipe e da direção, pode ser espontâneo e criativo durante o processo de desenvolvimento do espetáculo e seus ensaios. Entretanto, as apresentações posteriores a esse processo, não constituem mais um momento criativo e sim reprodutivo. Reproduz-se o resultado do que foi ensaiado e decorado quantas vezes forem necessárias e sem alterações no texto ou nas marcações. A interação com a platéia se dá num nível subjetivo e indireto, não devendo interferir no ato cênico.

No teatro espontâneo, essa interação com a platéia marca especialmente o desenvolvimento da cena, podendo inclusive, eclodir um novo personagem a qualquer momento, alterando significativamente todo o rumo da historia. O ator espontâneo serve de facilitador para a criação da platéia e, sua própria criação funciona como “escada” para a espontaneidade da platéia. Sua relação é direta.

Enfim, o que marca especialmente toda essa diferença, inclusive no uso da espontaneidade, é que um ator convencional faz um espetáculo para alguém, enquanto o ator espontâneo faz um espetáculo com alguém. Esse alguém, obviamente, é a própria platéia com tudo que as pessoas que a compõem carregam de suas histórias, desejos e expectativas.


quinta-feira, 7 de julho de 2011

IV Fórum Latino-Americano de Teatro Espontâneo

 Olá leitor!
Depois de um tempinho em hibernação, estou cá, às voltas com a escrita e pondo pra funcionar este gostoso veículo de comunicação.
Nos dias 28, 29 e 30 de outubro de 2011 acontecerá na cidade de São Paulo o IV Fórum Latino-Americano de Teatro Espontâneo.  O evento acontecerá no Memorial da América Latina e tem como tema para esta edição “A polis latino-americana: diálogos e estéticas”

Bem, amigo leitor, se você não sabe o que é Teatro Espontâneo, explicarei bem sucintamente. É uma modalidade de teatro, na qual tanto o texto como a representação são criados no decorrer do espetáculo, sem ensaio prévio. Em vez de textos pré-definidos, são utilizados temas que inspiram as histórias. A Platéia é solicitada a participar da representação e a história é encenada enquanto  é elaborada. Os participantes contracenam entre si e com os atores profissionais de uma trupe. A beleza do espetáculo resulta da criatividade coletiva.
As principais aplicações do Teatro Espontâneo são a sensibilização e reflexão sobre problemas coletivos, de forma lúdica, inventiva e participativa; a intervenção em grupos e times para tratar de temas específicos; a pesquisa e ação sobre clima de relacionamentos em organizações e comunidades; atividades educativas; expressão artística; e finalmente, o entretenimento. As apresentações duram, em média, 1h30m.
Sabe leitor, eu tive minha formação teatral iniciada no Centro de Artes da UNICAMP e, mais tarde, fiz a formação de Teatro Espontâneo e Psicodrama na Cia do Teatro Espontâneo, da qual tive a honra e alegria de participar durante muitos anos, como ator, diretor e como professor auxiliar.
A Companhia do Teatro Espontâneo é uma equipe de profissionais que desde 1989 vem pesquisando, desenvolvendo e aplicando o teatro espontâneo para as mais diversas situações. Além de manter um elenco que atua em suas apresentações, a Companhia é um centro formador de diretores e atores de teatro espontâneo. Sendo a pioneira na propagação desta técnica no Brasil, quase todas as trupes hoje existentes foram, de alguma forma, influenciadas pela Companhia do Teatro Espontâneo de forma direta ou indireta. Seu trabalho tem alcançado, inclusive, outros países da América Latina e Europa, em particular a Espanha. 
Bom, já falei um monte sobre isso. Vale a pena entrar no Blog do IV Fórum e conferir a programação e as atividades.


E fica o convite para que vá participar desse importante evento!!!

sexta-feira, 10 de junho de 2011

“O  homem  é  uma  semente,   uma  possibilidade, 
um  potencial, uma esperança, uma  promessa.
 

Mas a semente  ainda não é a  flor.
Na essência, ela tem a capacidade de  milhões  de  flores,
mas  isso  ainda  não  é  a realidade.

As  flores  têm  de  ser  tornadas realidade.”   
                                                                                    
Osho

terça-feira, 17 de maio de 2011

Caras, Caretas e Caricaturas

Olá leitor!

Hoje trarei um texto que escrevi há alguns anos, mas que continua muito atual no que se refere às atividades de Psicodrama e Teatro Espontâneo.
Há um motivo para resgatá-lo:  neste ano acontecerá em São Paulo, o IV Fórum Latinoamericano de Teatro Espontâneo, no Memorial da América Latina.  Logo mais, adicionarei o link para maiores informações.

Mas, leitor, sem mais delongas, vamos ao texto:

CARAS, CARETAS E CARICATURAS
Ralmer Nochimówski Rigoletto

 

“No peito do desafinado também bate um coração”

Já há algum tempo que observo, nas sessões de Teatro Espontâneo, que existe uma “tendência”, que podemos até mesmo considerar preconceituosa, de exagerar sobremaneira alguns tipos de personagem que surgem durante as dramatizações, quer seja como protagonista, quer seja num contra-papel ou apenas numa figuração. A esse exagero chamarei de CARICATURA.
Falei de preconceito pelo fato de que, na maioria das caricaturas, o personagem que sofre o exagero do ator, é um representante de um tipo social ou de um grupo social específico que pode ser (e na verdade, na dramatização exagerada, acaba sendo) alvo de deboche ou de crítica da parte dos demais personagens ou mesmo da platéia que está participando do Teatro Espontâneo. Em geral, esses personagens adotam um caráter simbólico que mexem nos construtos que trazemos acerca de seu exercício e existência no campo da realidade e que de alguma forma, incomoda.
As principais vítimas desse tipo de atuação são figuras religiosas (padres, freiras, pastores, pais-de-santo), figuras de autoridade (policiais, professores, pais), figuras homoeróticas e sensuais (gays, lésbicas, travestis e prostitutas), alguns tipos de profissionais técnicos, entre outros. Em todos estes casos, o aspecto que é tomado como foco do exagero por parte do ator, usa o referencial que ele aprendeu sobre o papel desempenhado, ou seja, o preconceito é social e está embutido na linguagem. O ator é o veículo do preconceito através do colóquio aprendido.
Habitualmente, a platéia reage à caricatura como se esta fosse um personagem cômico, por mais dramática que seja a cena em andamento. Os risos, entre outras manifestações, quase sempre revelam um certo desconforto pela presença daquele elemento naquela história. Mas, tanto o personagem quanto a reação que ele provoca tem a sua importância. O personagem, por trazer algum aspecto social importante de ser analisado pelo grupo em ação naquele momento. Já a reação, por vezes significa também uma quebra de tensões que estão insuportáveis. Logo, infere-se que o surgimento de uma caricatura, em dado momento, pode estar cumprindo a importante função de aliviar o teor tensional da dramatização em andamento. Cabe, no entanto, lembrar que o alívio da tensão nem sempre é benéfico. Este mecanismo pode estar a serviço das defesas grupais para que possa ser mantido o “status quo” do grupo ou de algum de seus integrantes. Cabe ao diretor notar essa sutil diferença e permitir ou não o crescimento da caricatura na cena.
Mas como lidar com o personagem caricato?
Em recente reunião / ensaio na Cia do Teatro Espontâneo, discutiu-se que a caricatura acontece em personagens que, a princípio, o ator ainda não assumiu plenamente. É um personagem que possivelmente não tem lastro nem história. Para tanto, há a necessidade de contextualizar o ator e integrá-lo ao personagem. Pensou-se em dois caminhos: Um deles, é a contracena em oposição ao personagem e o outro, a concordância, ambos num sentido de trazer o personagem puro, desprovido do preconceito e, portanto, livre da caricatura. Considera-se isso um respeito à pessoa do personagem. Na oposição, um auxiliar entra na cena para “desfazer” a máscara da caricatura, rejeitando-a na forma que se manifesta e solicitando do personagem uma reflexão mais séria quanto ao seu estar na cena e na história. Na concordância, o auxiliar atua a favor da caricatura, também prestando o serviço de trazer o personagem para um referencial no qual o ator possa apropriar-se dele. A quebra nem sempre é percebida de imediato. O que se vê é a história ganhando força novamente e um reaquecimento da cena no que tange ao conteúdo principal ou tema protagônico. Às vezes esse reaquecimento se dá pelo próprio personagem, antes caricato, agora portador da emoção ou mesmo do conflito na cena. Quando isso acontece, a atuação do auxiliar já foi cumprida e ele pode, então, deixar a cena. Deve-se lembrar que, ao auxiliar não é lícito caricaturar.
De maneira geral, a caricatura se desfaz quando o ator assume o personagem na história e retoma o foco desta, alvo do Teatro Espontâneo.
Nestas formas de lidar com a caricatura, possivelmente a platéia, que estava vivendo uma descarga tensional, reassuma o tema protagônico ou mesmo o ponto de conflito que originou a caricatura e, agora um pouco mais aliviada, tenha condições de viver a cena integralmente.
Ainda falando da platéia, cabe observar que, em grupos mais heterogêneos, podemos sempre contar com a presença de um ou mais elementos que sejam representantes reais do personagem caricaturado. Isso nos revela que também aí é necessária a atenção da equipe, evitando, se for o caso, que a caricatura assuma um teor agressivo ou depreciativo para o seu representante real e para que este não se sinta alvo de preconceito do grupo. Às vezes, um ator representa a sua realidade numa caricatura. Isso pode estar demonstrando a possibilidade de que no grupo exista foco de tensão quanto ao papel social dessa pessoa e, caricaturar o próprio papel signifique abrir espaço de aceitação pelo grupo e por si mesmo.
Por fim, é importante compreender que a caricatura é um exagero pejorativo na interpretação, partindo de um simples estereótipo para um caráter negativo e depreciativo do personagem e que acaba roubando a cena. Como estereótipo entendemos a escolha de um traço do personagem que está sendo representado, para exacerbação e conseqüente caracterização sem sombra de dúvidas e que, muitas vezes, auxilia a assunção do papel. Um exemplo disso seria o ator que interpreta um míope mantendo os seus olhos semicerrados e franzindo a testa como se estivesse com dificuldade para enxergar.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

"Entendo a psicoterapia mais como uma ajuda para que a pessoa entre em harmonia com a própria alma" 
Bert Hellinger, 1996.


quarta-feira, 4 de maio de 2011

Alguns apontamentos sobre a Psicoterapia Transpessoal

Olá leitor!
Hoje vou continuar minhas reflexões sobre a Transpessoalidade, discorrendo um pouco sobre ela enquanto instrumento psicoterápico.
Para falar sobre isso, inicialmente vou propor a compreensão de alguns aspectos importantes sobre Psicoterapia e para isso, vou aproveitar dos termos já utilizados e compará-la a um instrumento musical.
A primeira coisa, muito importante e necessária para tocar um instrumento, é saber fazê-lo, conhecendo o instrumento, suas partes e seu funcionamento.  Caso contrário, só se faz barulhos e dissonâncias, geralmente com sonoridade desagradável para aquele que escuta; além de se correr o risco de quebrar o mesmo.
Devo dizer que assim também ocorre com a Psicoterapia: é um instrumento delicado, que se não for utilizado adequadamente, oferece uma grande possibilidade de prejudicar, ao invés de ajudar; assim como a prática propriamente dita pode sofrer sérias distorções e, com isso, tornar-se um instrumento danificado.
Também é necessária uma boa afinação do instrumento, para que o som se faça límpido, cristalino.  No caso da psicoterapia também. Essa afinação se dá através do estudo e aprimoramento contínuo do psicoterapeuta, tanto no campo intelectual - no que diz respeito ao conhecimento e utilização da técnica - quanto no campo pessoal, submetendo-se ele mesmo, ao acompanhamento de suas questões e buscando sua própria expansão de consciência, neste caso, fazendo psicoterapia ou supervisão.
Como sabe, leitor, diferentes instrumentos oferecem diferentes sons e timbres. Mas todos, desde que bem tocados, oferecem belas melodias. Vamos associar este aspecto às diferentes abordagens em psicoterapia. São diferentes instrumentos que oferecem recursos àqueles que as buscam e podem sentir mais afinidade por esta do que por aquela.  Desde que seja bem conduzida, oferecerá bons resultados.
Ah, sim! Um ponto importante: Para tocar qualquer instrumento, o músico ou instrumentista precisa necessariamente conhecer MÚSICA.  Na psicoterapia, portanto, há também uma base geral, para todas as diferentes abordagens, que é a PSICOLOGIA.

Isto tudo colocado, acredito que possamos agora focalizar o assunto na Psicoterapia Transpessoal. O que acha leitor?
Então vamos lá.
Como mencionei no post anterior, o foco da Transpessoal é a expansão da consciência, através da qual as pessoas têm a possibilidade de, amorosamente, mudar, transformar, criar, construir.  Note amigo leitor, que todos os verbos representam ação.  Tendo esse foco, o psicoterapeuta transpessoal utilizar-se-á de diferentes recursos para auxiliar o seu cliente/paciente a alcançar esse estado que favorece uma ação consciente e construtiva.
Falar dos diferentes recursos é muito delicado.  Aqui também é necessário considerar questões como a afinidade e o preparo do psicoterapeuta para a utilização de técnicas específicas, que vão desde o diálogo - orientado dentro da concepção transpessoal da existência humana - até as técnicas específicas de respiração, relaxamento, vivências xamânicas, dramatizações, regressões, arte terapia, musicoterapia, dança, meditação..., enfim, uma enorme quantidade de "peças musicais" que podem ser executadas neste instrumento.
O que?  Você quer entender melhor o que significa expansão da consciência?  Bem, simplificando bastante, isso se dá quando a sua visão e percepção acerca das coisas, dos fenômenos, dos seres, da vida e especialmente de si mesmo, fica ampliada, permitindo entrar em contato com o objetivo e missão de cada um desses aspectos dentro da Criação. É o contato e conhecimento de si enquanto "ser integral" e da energia que se coloca em movimento nesse processo, que é o amor.

Não faça essa cara leitor! Parece muito grandioso, mas não é! Um dos pontos que a Psicoterapia Transpessoal privilegia é a possibilidade de nos tornarmos observadores de nós mesmos. E quando isso acontece, encaramos nossa "sombra" e nossa "luz", permitindo buscar a superação daquilo que não nos serve, bem como, saber tudo o que precisamos colocar em prática para construir uma vida melhor, para si mesmo, para os outros (direta ou indiretamente) e, consequentemente, para o mundo. 
Lembre-se leitor amigo: todos nós estamos aqui por algum motivo, além de termos a mesma origem e a mesma finalidade  (independente de crença ou religião - isso é fato).  Quando a consciência disso acontece, tomamos contato com a nossa "missão", que de certa forma, envolve amorosamente a tudo e a todos. Por isso acreditamos na possibilidade de um mundo melhor.  Também é por isso que a Transpessoal acolhe para seu campo de atuação tantas práticas e técnicas diferentes. 
Não pense leitor, que a Psicoterapia Transpessoal é uma abordagem mágica ou divina, que objetiva transformar "homens em anjos". De fato, o caminho é árduo: olhar de verdade para si mesmo é quase sempre um processo doloroso e demorado até que se consiga vencer todas as armadilhas do ego. Para tanto, requer coragem e determinação e, como toda construção, se faz assentando tijolinho sobre tijolinho.  
Bom trabalho!


terça-feira, 26 de abril de 2011

Reflexões sobre a ação da Psicologia Transpessoal

Depois de algum tempo, a gente percebe que algumas coisas simplesmente se incorporam na nossa vida, no nosso dia a dia.  Assim tem sido com a Transpessoal desde o curso de formação no ano passado.
Não posso dizer que um mundo novo se abriu, pois todo esse conhecimento, de certa forma, sempre esteve presente na "alma do mundo". Apenas foi necessário resgatá-lo.
O interessante, de fato, é quando se começa a perceber isso tudo ganhando forma e tornando-se ação.  Sim, afinal, de que adianta ter o conhecimento se ele não se torna ação?  Pra que serve o conhecimento se ele não for colocado a serviço do bem e da humanidade? 
Vejo hoje que uma das funções da chamada expansão da consciência, alvo de estudo da Psicologia Transpessoal, é nos resgatar para o que vou chamar aqui de ética maior da humanidade.  Essa tomada de consciência nos põe imediatamente num processo de questionamento sobre ação e reação, causa e consequência. Daí por diante, o personagem EGO por nós interpretado para "viver bem" nesse mundo, dá espaço para nossa essência, que é.  Não estranhe, leitor.  A frase acaba aí mesmo. Pois de fato, somos essências, ligadas umas às outras. Simples assim. 
Às vezes esbarramos, escorregamos, torcemos e retorcemos e com isso, nossas relações se configuram desta ou daquela maneira. Tomar visão disso, nos permite, quando possível, reformular, reatar, realinhar...
Isso acontece tão espontâneamente que só nos damos conta quando, observadores de nós mesmos, nos surpreendemos com atitudes bem diferentes daquelas que o personagem EGO executaria. É nesse momento que a essência, que tem o conhecimento da ética acima citada, age. Não vou ficar exemplificando aqui as mudanças corriqueiras, pois são muito particulares em cada um.  Apenas reforço que, apesar da particularidade, elas respondem ao objetivo maior da "alma do mundo" e, considerando que estamos todos ligados, quando faço algo em benefício de outrem, do ambiente, ou ainda quando consigo me abster de um ato ou palavra que significaria algo ruim, automaticamente toda a humanidade, de alguma forma se beneficia dessa energia.  Que energia é essa?  Oras, leitor!  É o AMOR.  Mas dele eu falo outra hora.